sábado, 2 de julho de 2011

Desabafo

Se penso, logo existo
Se existo, logo sinto
Se sinto, logo sou
Se sou, logo realizo
Se realizo, logo movo
Se movo, logo mudo
Porém mudo, não existo.

(Mika Mendes)

  Não, de forma alguma quero interferir Descartes e toda a sua metodologia racionalista, quem sou eu afinal para me atrever a tanto. Muito menos colocar em cheque a existência, e seu criador, cujo o próprio Descartes tratou logo de reafirmar.  O que pauto é puramente físico, algo que nosso bom Newton em mais um de seus ócios devanéticos colocou como sua terceira lei: " Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário". Vamos tirar como exemplo a clássica ideia inicial transmitida pela velha teoria do Caos onde "O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque." O que quero que seja percebido não é a complexidade do texto, mas fato de que ele gerará uma reação, uma consequência em vocês, leitores. Terão duas opções distintas enquanto ao que falo: Concordarão ou não. E digo a todos, sua opinião é garantida desde que o romântico Voltaire pronunciou aquelas palavras sobre liberdade e democracia a algumas décadas atrás, e concordo com ele, aproposito.A questão é que estou ciente de que meus atos gerarão outros atos que baterão contra os meus, pois partem de princípios opostos, e que como parte de uma sociedade faço valer minha voz com respeito a cinesfera de cada cidadão, assim como Voltaire, que poderia não concordar com a sua ideia mas defenderia o seu direito de falar.  Portanto sejamos coerentes ao pronunciarmos perjos, pois toda opinião que se valha de respeito, deve ser ouvida e analisada antes de julgada. Vivemos em uma sociedade dógmatica, e não estou reclamando. Contando que estes dogmas não deixem de atender seus propósitos iniciais e passem a se tornar verdades dos homens para com os homens, em beneficio dos homens e para santificar o homem. Terei respeito e disciplina a quem também se propõem me respeitar e se submeter ao entendimento de minhas palavras, não necessariamente a aceitação, mas puramente o entendimento, para que possa estabelecer então uma opinião sensata enquanto a mim e minhas ideias.Mas enquanto isso não acontece vou respirar fundo, contar até cinco, tomar um gole da minha xícara de café e assistir a essa sessão da tarde ...

Fiquem à vontade.

- Mika Mendes

terça-feira, 5 de abril de 2011

Palavras

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"Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra" 

(Chico Buarque)


Minha avó costuma dizer que palavra tem força. Mas qual força tem, quando não convertida em direito e em dever a obediência? A força é um poder físico, e se quer posso imaginar que moralidade possa resultar de seus efeitos. Ceder a força é ato preciso, e não voluntário, ou quanto muito prudente: Em que sentido pode ser uma obrigação? 
Concordo ainda mais com o simpático Rousseau, a força não produz direito. Logo creio eu que palavras são a maior antítese existente, se assim me permitem expressar. Elas são causa, feito e efeito, são o querer, poder, certeziar, e duvidar. É permitir e obrigar, esquecer e sentir, é ter e saber, é observar e ouvir. Bom... O texto que segue não é essencialmente fácil de se compreender, muitas palavras implícidas, diria... Enfim... Esse é apenas mais um dos devaneios sem muito brilho dessa mente quase sã de quem vos fala. Fiquem à vontade...


Palavras

Vê, revê e não enxerga. 
Teima, sente, logo entende.


Era Dinis e suas flores,
Vicente e suas barcas,
Camões e sua métrica,
Gregório e sua angustia,
Magalhães e seus suspiros.


Era Basílio e o Uruguai,
Johann e o suicídio,
Era miséria e Victor Hugo,
Garrett e seu não amor,
era Júlio e João,Também José
E sua virgem dos lábios de mel. 

Era Azevedo e seu anjo lindo,
dançando a valsa de Casimiro.
Era Castro e o navio,
Gonçalves e o exílio.


Da senhora ao sertanejo, 
Em cinco minutos, talvez.
Era Brás Cubas e o Casmurro
Rodolfo e sua Rita,
Adolfo e a jornalista.

Era Alberto e seu vaso,
Raso, mas belo,
Tão belo quanto o céu, a terra,
E o mar de Oliveira 
à tarde de Bilac.


Era Baudelaire e seu Vampiro,
Camilo e a viola,
Cisne Negro em seus últimos sonetos
À reprovar Augusto 
e todo seu conhecimento


Era também Euclides e o Sertão,
enfrentando Verner 
E toda sua imaginação.
Era o tic-toc de Longfellow.
Marcando o tempo das sinfonias de Correia
que tocavam as vagas músicas de Cecília. 


Era eu,  pequena roubadora de vidas.
Já fui Iracema e Capitu,
Bovary, Mary e Helena,
Catarina e Julieta,
Já fui Isolda e Colombina,
Emília e Maria,
Alice e Iara,
Antonieta e Maffei,
Inês e Antígona, 
Também atriz de Drummond.


Já quis eu dizer
a Júlia da alma infantil
que ajudasse Lobato com as reinações de narizinho
e que falasse p'ra ele 
Que Abreu mandava lembranças.. 


Pensei eu, 
Que as Rosas de Alphonsus 
E a Poesia de Andrade
Proferiam os délirios de Lispector
e as vontades de Reis e Pessoas*.


E então eu,
Perguntei a Luís Borges, 
E ele disse: "Sou",
A Flor Bela, e tal disse: "Não sou"
Responda-me então William,
será ao menos essa a questão?


(à terminar)


* Vale ressaltar que o verso se refere à um dos heteronomios de Fernando Pessoa, Ricardo Reis. 

Mika Mendes